Muitos se perguntam, desde que a humanidade existe: é a felicidade uma escolha ou uma consequência de nossas experiências? Ou, em que medida ela é uma ou outra coisa? Ela depende mais de nós ou das circunstâncias em que vivemos?
Há na tradição sufi a história de um místico que vivia sempre sorridente. Um dia perguntaram a ele o segredo da sua felicidade. Ele disse não haver segredo: “Apenas, toda manhã quando levanto, eu medito por cinco minutos e digo a mim mesmo: ‘Escute, existem agora duas possibilidades: você pode ser triste ou pode ser feliz. Escolha.’ E eu sempre escolho ser feliz”.
Certamente uma grande parte de nossa felicidade depende de escolhas, mas vale lembrar que existem duas qualidades de felicidade. A primeira, é uma felicidade que depende de alguma situação. A pessoa que tem excesso de peso sabe que ficará feliz se emagrecer, a pessoa que passa por necessidades sabe a felicidade que virá quando ganhar dinheiro, a que sofre por solidão imagina o quanto experimentará de felicidade ao encontrar um grande amor. São experiências felizes legítimas e que são estimuladas pela atitude que tomamos frente a vida. Mas são experiências que possuem o seu oposto no terreno da infelicidade, se a magreza, o dinheiro ou o amor não vierem, apesar de todo o empenho para que venham, não se vai experimentar essa felicidade.
O segundo tipo de felicidade é fruto de uma coesão da pessoa com o seu íntimo; independente de qualquer sucesso em alcances pessoais, a pessoa se sente feliz por estar sendo coerente consigo mesma, por estar agindo conforme sua verdade interior, e não por indução do que os outros acham conveniente. Deveríamos ter duas palavras diferentes para esses dois estados, é inegável que os dois podem ser traduzidos por “felicidade”, mas são experiências diferentes. A língua inglesa tem “happiness” e “bliss”. Talvez pudéssemos traduzi-las por “felicidade” e “júbilo”. Mas, tendo ou não palavra que defina, uma coisa é certa: para o primeiro estado de felicidade nossa decisão pesa muito mas não é garantia de alcance, para o segundo, nossa decisão é tudo.
Pedro Tornaghi, filósofos, teólogos.
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