Ariovaldo Ramos fala sobre a aplicação de castigos físicos nas crianças e a Lei Menino Bernardo, também conhecida por Lei da Palmada. A pergunta foi respondida durante a gravação do Podcast irmaos.com no Lutando Pela Igreja 2014, em Goiânia.
Ariovaldo Ramos fala sobre a Lei da Palmada
Qual seu nome e de onde você é?
- Sou o Lúcio, de Uberlândia. Sobre a questão da agressão a crianças. A gente sabe que existem os casos de violência extrema, espancamento. E hoje o próprio filho pode fazer uma denúncia na polícia se ele receber uma palmada, uma chinelada, e o pai receber uma repreensão do policial. Eu nunca vi o caso do cara ficar preso mais de um dia, mas ele pode sofrer uma denúncia e ir na polícia. Queria saber qual o limite da educação da criança, do corrigir o filho.
- ARIOVALDO RAMOS: Nós temos uma situação muito complicada, que de um lado você tem um nível de violência tão elevado que o Estado é constrangido a invadir a área privada. E isso é muito complicado, porque se o Estado se acostuma a legislar a área privada, alguns direitos humanos vão ser vilipendiados. Isso é muito complicado. Estabelecer esse limite não é uma questão fácil porque a questão da vida privada é uma questão que precisa ser tratada com muito cuidado, muita sensibilidade porque senão o Estado vai fazer um nível de ingerência que é contrário ao direito humano de ir e vir, ao direito de expressão, ao direito de postura, etc. Agora, não há a menor dúvida de que nós temos abusos numa sociedade eminentemente capitalista. Numa sociedade eminentemente capitalista, é uma sociedade competitiva e que empurra o ser humano para um estado em que ele não pode ser questionado, porque qualquer questionamento pode, de alguma maneira, enfraquecer a capacidade competitiva dele.
Aí ele reage como se tivesse sendo restrito, restringido, impedido de ser tão competitivo como ele pode e precisa ser se quiser vencer numa sociedade selvagem, que é o que a sociedade capitalista vai se tornando cada vez mais.
E é natural que gente que está sob pressão o tempo todo descarregue a pressão no elemento mais fraco que está perto de si e com menor capacidade de reação. Além do que, é natural que gente assim tenha uma enorme dificuldade de tolerar qualquer espírito libertário, qualquer desobediência ou incompreensão.
O Estado entende que tem que proteger o mais fraco e toda questão disciplinar fica sob judice. Isso é um negócio realmente complicado, porque nós estamos lidando com uma sociedade que conhece a disciplina familiar, não tem ninguém na sociedade brasileira que não entenda o significado da disciplina familiar e não tenha sobrevivido a ela, porque na maioria esmagadora dos casos a disciplina familiar era contida, pontual e específica.
Aí o Estado entra na questão da disciplina familiar e o Estado entende que vai impor os limites.
O que nós pastores temos que fazer?
Primeiro, temos que entender que o Estado foi pressionado por uma nova circunstância: um aumento sensível da violência. Houve um aumento sensível da violência, e o elemento mais fragilizado, e a criança é mais fragilizada entre os fragilizados, é quem recebe maior densidade de violência e precisa ser protegida. Ao mesmo tempo entendemos que a criança precisa ser disciplinada, então o que nós da igreja deveríamos fazer?
Reinventar a disciplina sabendo que o que está sendo poupado, o que está sendo punido, não sou eu que disciplino meu filho de maneira contida. O que está sendo poupado é a criança qu está a mercê do violento e precisa ser poupada, e o Estado lamentavelmente não tem como fazer isso de forma pessoal, caso a caso. Não dá.
Então agora o que cabe a nós é compreender o estado que a sociedade está vivendo, porque não há como não ver o que está acontecendo, a gente precisa regular isso e dar ao indefeso uma chance de grito.
Então, o que sugiro para nós cristãos? Vamos reinventar a disciplina, mantendo o espírito da disciplina sem precisar do castigo físico.
Vamos ajudar as nossas crianças a saberem o significado da disciplina sem precisar destruir uma lei que não visa a mim, mas um estado de violência que está posto, vai nas escolas públicas, vê como as crianças chegam em casa, fala com os nossos missionários que trabalham em escolas públicas e vê como as crianças chegam. É um estado de horror o que está acontecendo no país. Esse estado de horror está ligado ao capitalismo e ao stress de uma sociedade competitiva ao limite. Agora é hora de entender a circunstância que a gente vive e entender que quem está sendo protegida é a criança e não que nós estamos sendo atacados, nós os contidos, os que tem reflexão. Não somos nós que estamos sendo atacados, é a criança que está sendo protegida. E aí cabe a nós reinventarmos isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário